domingo, 22 de setembro de 2013

Equinócio de Primavera




Seja bem-vinda Primavera,

momento do re-despertar da vida depois do hostil Inverno. Os equinócios são momentos de transição e, portanto, oportunidades de renovação. A Terra está banhada em fertilidade numa explosão de vitalidade: deve-se celebrar a união dos casais e consequente geração de novas vidas. A Primavera é a estação da esperança e da certeza de que dias melhores sempre vêm.  


"Podes cortar todas as flores, mas não podes impedir a primavera de aparecer." Pablo Neruda

sábado, 20 de julho de 2013

5 Deliciosas Flores Comestíveis


1) CAPUCHINHA

Capuchinha (Tropaeolum majus) é uma planta completamente comestível, valorizada no jardim e na cozinha por suas flores vistosas em vermelho, laranja e amarelo. É nativa das florestas do México e do Peru, onde os Incas a cultivavam para ornamentação. Uma das espécies mais conhecidas de flor comestível, a floração da capuchinha é usada fresca ou desidratada em guarnições, saladas e sanduíches. As flores frescas podem ser utilizadas como charmosos invólucros para pastas de queijo. Os botões, quando transformados em picles, são um barato substituto para alcaparras. As folhas picantes ficam ótimas em saladas, mas devem ser usadas em pequenas porções. Até os caules podem ser aproveitados, fervidos em sopas. 

Sabor: levemente pungente e apimentado. As flores têm gosto doce e picante, como o do agrião. As que crescem ao sol do outono e são colhidas tarde têm sabor mais intenso. 



2) FLOR DE ABOBRINHA

A bela flor amarela da abobrinha (Cucurbita pepo) pode ser consumida recheada e frita ou passada na fridigeira recoberta em massa dourada e crocante de tempura. Essas flores são frágeis, portanto, precisam ser utilizadas um ou dois dias após serem colhidas. É interessante saber que as abobrinhas podem ser macho ou fêmea e ambas florescem. Tipicamente, as flores macho são grandes, permanecem abertas por mais tempo que as fêmeas e não formam frutos. Por esse motivo, são preferidas na culinária, uma vez que não há mais serventia para a flor macho depois que as flores fêmeas já foram polinizadas. 

Sabor: tem sabor suave e doce e pode ser recheada ou comida crua em saladas. As flores menores, fêmeas, são as preferidas para serem empanadas. 


3) ALCACHOFRA ROMANA

A alcachofra romana (Cynara scolymus), é um tipo requintado de flor em forma de globo, com a cabeça grande e esférica e folhas verdes levementes tingidas de um violeta rosado. Alguns acreditam que ela apareceu na antiga Sicília. Outros afirmam que a planta já era conhecida pelos antigos gregos e romanos mas desapareceu de vista até reaparecer na Itália, durante o Renascimento. Na maioria dos casos, a alcachofra romana é cultivada ao longo da costa do Lazio, nas proximidades de Roma, até as mediações de Civitavecchia. A planta cresce em ambientes salgados e o solo costeiro oferece condições ideais para seu cultivo. 

Sabor: valorizada por ser mais macia que as demais da mesma espécie. A alcachofra romana tem sabor suave e cremoso, deixando um gosto ligeiramente metálico com toques de doçura.   


4) FLOR DE BANANEIRA

Com forma de bala de revólver, pesada e protegida por folhas externas raiadas em púrpura avermelhado, a flor de bananeira (ou broto de banana) tem uma aparência formidável. Entretanto, a rudeza exterior esconde um ingrediente de delicadeza surpreendente, que costuma ser comparado à alcachofra. As folhas externas, muito espessas, se abrem para revelar brácteas compactadas em tonalidades de rosa-pálido ou bordô, alternadas com pequenas flores (que se parecem com bananas em miniatura). As flores de banana são muito populares no Vietnã, Tailândia, Filipinas e Camboja, onde são comidas cruas ou são cozidas até ficarem macias e servidas em saladas, acompanhadas de molhos à base de vinagre e frutas cítricas. Podem ainda ser servidas como sopa à base de leite de coco ou picadas para acompanhar pratos de macarrão. As flores pequenas e arredondadas costumam ser mais saborosas do que as maiores e pontudas.

Sabor: tem a textura crocante do palmito, fortificada por mais fibras. Seu sabor, com leve toque de noz, lembra a alcachofra, cogumelo e abobrinha.


5) FLOR DE IZOTE

Com um impressionante galho florido que atinge quase 1m de altura no verão, coberto com uma massa de flores brancas e perfumadas, a flor de izote nasce da yucca (que pertence à família do agave). As flores, com formato de sino, são consideradas uma iguaria no México, Costa Rica, Guatemala e El Salvador. Quando a planta se encontra semi-amadurecida, os sininhos brancos podem ser colhidos e comidos assim que abrem, ou até um pouco antes. Os antigos maias ferviam as flores e preparavam com elas um chá energizante. Ricas em cálcio, as flores devem ser postas de molho por 20 minutos ou lavadas antes de serem cozidas, para remover um pouco de seu amargor.

Sabor: depois de ficarem de molho e serem cuidadosamente limpas, as flores de izote tem sabor agradavelmente amargo. Mesmo depois de cozidas, mantém uma textura levemente crocante.

Fonte: '1001 Comidas para Provar Antes de Morrer' (2008)

Breve Reflexão Sobre a Loucura - partes II & III



Breve Reflexão Sobre a Loucura - parte II 
Esquizofrênico ou Xamânico?

Texto retirado de uma entrevista com Terence McKenna (1946-2000), etnobotânico e filósofo visionário. O vídeo original (legendado) se encontra no final do texto:

"Esquizofrenia é um termo geral para formas de comportamento mental que nós não entendemos".

No século XIX havia o termo melancolia, o que agora chamaríamos de depressão bipolar. Mas todas as formas de tristeza, infelicidade, maladaptação, e assim por diante, foram rotuladas de melancolia. Agora, a esquizofrenia é algo parecido.

Eu consigo me lembrar de uma experiência que tive anos atrás: eu estava na Biblioteca Tolman, na Universidade da California, que é a biblioteca de psicologia. Eu estava investigando alguma droga ou algo, então vi e tirei da prateleira um livro sobre esquizofrenia, e ele dizia: "O esquizofrênico típico vive num mundo de imaginação obscura, marginal à sua sociedade, incapaz de manter um emprego normal. Essas pessoas vivem nas margens, desprezadas por navegarem em seus próprios (auto-criados) sistemas de valores."

Eu disse: "É isso!"... "É isso! Agora eu entendo!"

Nós não temos a tradição de xamanismo. Nós não temos a tradição de se aventurar nesses mundos mentais. Nós temos pavor da loucura. Nós a tememos porque a mente ocidental é um castelo de cartas, e as pessoas que construiram este castelo sabem disso, e eles tem terror do delírio. Tim (Tomothy) Leary disse uma vez - ou eu lhe dei crédito por ter dito, mais tarde ele me falou que nunca disse... - mas seja quem for que disse, esta foi uma frase brilhante. Alguém disse uma vez: "O LSD é uma substância psicodélica que ocasionalmente causa comportamento psicótico... nas pessoas que não o tomaram!" Certo?

E eu aposto com vocês que mais pessoas demonstraram comportamentos psicóticos por não tomarem LSD, mas só de pensar nele, do que jamais foi demonstrado por tomar. Certamente na minha família, eu assisti meus pais ficarem psicóticos com o mero fato do LSD existir, eles nunca experimentariam.

Existe uma enorme fobia sobre a mente. A mente ocidental é bem enjoada quando primeiros princípios são questionados. Mais raros que cadáveres, nesta sociedade, são os delirantes não tratados, porque nós não conseguimos chegar a um acordo com isso.

Um xamã é alguém que mergulha no mesmo oceano que o esquizofrênico, mas o xamã possui milhares e milhares de anos de técnicas e tradições sancionadas nos quais se basear. Numa sociedade tradicional, se você apresenta "tendências esquizofrênicas", você é imediatamente separado do bando e colocado sob o cuidado e a tutela de mestres xamãs. É dito a você: "Você é especial, suas habilidades são essenciais para a saúde de nossa comunidade. Você vai curar, você vai profetizar, você guiará nossa sociedade em suas decisões mais fundamentais." Compare isso com o que é dito a uma pessoa apresentando "tendências esquizofrênicas" na nossa sociedade: "Você não se encaixa, você está se tornando um problema, você não se sustenta, você não tem o mesmo valor para nós, você está doente, você precisa ir para o hospital, você tem que ser trancado, você está no mesmo nível que os presidiários e os cachorros de rua."

O Louco - Golden Tarot
de Liz Dean (2008)
Então, este tratamento da esquizofrenia a torna incurável. Imagine se você fosse um pouco estranho e a solução fosse te colocar num lugar onde todos estão gravemente dementes. Isto enlouqueceria qualquer um. Se você já foi num hospício, você sabe que é um ambiente calculado para te deixar louco e te manter louco.

Isto nunca aconteceria numa sociedade aborígene ou tradicional.

Eu escrevi um livro - e este precisa ser o encerramento porque já passamos do tempo... - mas, eu escrevi um livro chamado "O retorno à cultura arcaica", eu o autografei esta noite para alguns de vocês. Nele, a ideia é que nós adoecemos por seguir um caminho de racionalismo sem limites, atenção machista a superfície visível das coisas, praticalidade, visão geral e vaga das coisas. Nós ficamos muito, muito doentes, e a política corporal, como em qualquer corpo, quando ele sente que está doente, ele começa a produzir anti-corpos, ou estratégias para superar a condição de doença. O Século XX é um enorme esforço de auto-cura. Fenômenos tão diversos quanto o surrealismo, piercings, uso de drogas psicodélicas, tolerância sexual, jazz, dança experimental, cultura de rave, tatuagem, a lista é interminável... O que todas essas coisas tem em comum? Elas representam vários estilos de rejeição de valores lineares. A sociedade está tentando se curar através de um retorno à cultura arcaica, por uma reversão à valores arcaicos.

Então, quando eu vejo as pessoas manifestando liberdade sexual, ou se escarificando, ou mostrando muita pele, ou dançando em ritmos sincopados, ou se embriagando, ou violando cânones religiosos de comportamento sexual, eu aplaudo tudo isso, porque é um impulso para retornar ao que é sentido pelo corpo, ao que é autêntico, ao que é arcaico. Quando você destrincha esses impulsos arcaicos, bem no centro desses impulsos está o desejo de voltar para um mundo de fortalecimento mágico do sentimento, e no centro deste impulso está o xamã, drogado, intoxicado com plantas de poder, falando com os espíritos ajudantes, dançando sob o luar, e vivificando e invocando um mundo de mistério vivo consciente.

O Mundo é isso. O Mundo não é um problema sem solução para cientistas e sociólogos, o Mundo é um mistério vivo. Nosso nascimento, nossa morte, nosso estar no presente, isso são mistérios, eles são portais se abrindo para vistas inimagináveis de auto-exploração, autorização e esperança para a empresa humana.

A nossa cultura destruiu isto, nos tirou isto, nos fez consumidores de produtos mal-feitos e ideais ainda mais mal-feitos. Nós temos que nos afastar disso, e o modo de se afastar é retornar à autêntica experiência do corpo. E isto significa nos autorizarmos sexualmente, e nos drogar, explorar a mente, como uma ferramenta para transformações pessoais e sociais.

A hora é tarde, o tempo está passando. Nós seremos julgados severamente se deixarmos a bola cair. Nós somos os herdeiros de milhões e milhões de anos, de vidas vividas com sucesso, e bem sucedidas adaptações às mudanças nas condições do mundo natural. Agora o desafio é nosso, dos vivos, para que os que estão para nascer tenham um lugar sob seus pés e um céu sobre suas cabeças.

É disso que se trata a experiência psicodélica, é se importar com a autorização e construção de um futuro que honre o passado, honre o planeta e honre o poder da imaginação humana. Não existe nada de tão poderoso, tão capaz de transformar a si e o planeta, do que a imaginação humana. Não vamos vendê-la! Não vamos nos prostituir à ideologias estúpidas! Não vamos entregar nosso controle aos de mais baixo grau entre nós! Ao invés, tome o seu lugar ao sol e vá em direção à luz. As ferramentas estão lá, o caminho é conhecido, você deve virar as costas para uma cultura que está se tornando estéril e morta e entrar no programa de um Mundo Vivo e da autorização da força da imaginação. Muito obrigado!


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Breve Reflexão Sobre a Loucura - parte III
'Healing the spirit: an aboriginal approach to mental illness in South America'

Texto escrito por mim - baseado na entrevista de McKenna - para o curso 'O Contexto Social da Saúde e Doença Mental', oferecido pela University of Toronto: 

     The European colonization of South America began in the 15th century. Portugal and Spain extensively explored not only the continent's natural resources but also the knowledge of the local communities. South America suffered with loss of identity: the original culture was dramatically replaced through violent conquests and forceful religious impositions. The loss of identity was of such significance that it still reflects on the present day, over five centuries later.

     A few practices have survived, including the healing arts of the aboriginal people. Although such practices are protected legally (as they are declared cultural patrimony), they have a very fragile existence because the media portraits them as inefficient and supersticious, resulting in an marginalization of these practices among the educated population, who prefer the healthy care systems inspired by the european models. Besides, there is a legal battle going on over the use of substances that are considered illegal due to its psychoactive properties. These substances are the basis for the establishment of various spiritual traditions of indigenous peoples in a vast region - that includes several Amazonian countries such as Brazil, Peru, Bolivia, Colombia, Ecuador, etc. - and are crucial elements of our cultural heritage (Labate, 2008).


     However, many people still search for alternative healing techniques in isolated parts of the Amazon to experience the traditions in its original settings. The growing concern over the loss of our culture can be noticed with the revival of Shamanism, which is a spiritual practice that has been around for over 10.000 years. The term 'shaman' is originally from Siberia and was created by anthropologists to refer to a spiritual healer. But the shaman is not only a healer, he or she performs many different roles in the community as counselor, psychologist, doctor, educator, priest, botanist and others; which reflects the holistic approach of the ancient knowledge when dealing with the 'dis-ease'. The term 'mentally ill' used by the modern medicine suggests that the distress lies on the mental level only, while the shamanic perspective takes in consideration that the human complex - mind, body, spirit - are interdependable. The shaman himself can be diagnosed as mentally ill: a Shaman is someone who swims in the same motion as a schizophrenic, but the Shaman has thousands of years of sanctioned technique and tradition to draw upon (McKenna, 1992).

     Mentally ill is how we label those that have perceptions of reality that are different from average and have their own self-created value systems. As they suffer with many forms of maladaptation in the society, those considered mentally ill are locked away. In the shamanic understanding, those people should never be excluded from the community: together with the shaman, they learn how to develop their skills and could even become shamans. The family is proud of the individual because he or she enjoys an influential position in the community and has proper guidance. In the 'civilized' society, the so-called mentally ill are forced to adjust and the power is taken away from their hands as well as their freedom. The family is unable to deal with the situation because they lack effective instructions and support from the community. By the bio-psycho-social-spiritual-cultural perspective, the patient is in a much more beneficial environment among the tribal society than among the civilized one. Anthropologists have already observed that severe mental illnesses are inexistent in pre-writtting civilizations which could be an evidence that it is a cultural issue rather than biological.

     There is a lot we can learn with the ancient practices when it comes to mental illness. The magic of life lies in its mysteries and unsolved questions: 'where do we come from?', 'where do we go after we die?', 'is there a God?'. These are natural questions that should remain unsolved for the sake of our own sanity. As long as it remains a cosmic secret we can rely on the power of our imagination to speculate as a healthy philosophical exercise. Some matters are just beyond the compreheension of the ordinary sane person - the ancient societies knew that and wisely praised the insanes as a valuable member of the society, whose role is to be a bridge between the physical and the spiritual world.

domingo, 14 de julho de 2013

Breve Reflexão Sobre a Loucura - parte I



Breve Reflexão sobre a Loucura - parte I
Loucura ou Genialidade?

Para entender como o jardim pode ser utilizado como instrumento curativo, é preciso compreender o que está sendo curado. Mas afinal, o que a terapia se propõe a curar? Trata-se de uma questão muito delicada e apresento a seguir meu ponto de vista pessoal.

Vamos considerar a seguinte resposta: se propõe a curar qualquer anormalidade no comportamento do indivíduo. Mas eu pergunto - o que é a normalidade? Quem define tais parâmetros? Consideramos a inadequação do indivíduo na sociedade ou a inedequação da sociedade no indivíduo? Acabamos com mais dúvidas do que soluções.

Com uma abordagem holística da situação, identifico um problema cíclico e não linear: acredito que as necessidades irracionais de um indivíduo são consequencia direta da influência de uma sociedade disfuncional, que por sua vez, é resultado das necessidades irracionais do indivíduo. O padrão ideal de comportamento é baseado numa sociedade utópica, o que não reflete nossa realidade atual. Estamos tão condicionados a atuar no papel de cidadão perfeito que reprimimos nossas feridas emocionais a todo custo para exibir ao mundo uma fachada que julgamos aceitável. Essa atitude nos faz perder nossa identidade e nos afasta ainda mais de nosso verdadeiro Eu - é justamente neste distanciamento que surgem os distúrbios, transtornos e desequilíbrios mentais.

Portanto, acredito que o transtorno não é a doença em si, mas o sintoma de um problema ainda maior. Certas situações agem como gatilhos para nossas feridas emocionais e reações específicas irão imergir como consequência natural. O psiquiatra escocês R. D. Laing diz que 'transtornos mentais são uma resposta normal a um mundo louco'. Enquanto as feridas emocionais não forem identificadas e cicatrizadas corretamente, o indivíduo continuará a repetir o padrão de comportamento que tem lhe causado problemas e do qual ele quer tanto se livrar. Superar um comportamento problemático - por quê? Para quem? Ás vezes transtornos mentais soam como uma metáfora para mal comportamento.   

É esperado de nós o sacrifício de nossa autenticidade e o não-conformismo é punido com exclusão social, por mais genial e por mais contribuições que o indivíduo tenha feito para a própria sociedade que o exclui. Os que contribuem 'positivamente' chamamos gênios, os que contribuem 'negativamente', chamamos loucos - desconsiderada a polaridade que os colocam em posições opostas, genialidade e loucura são idênticas em essência.

Portanto, o objetivo da terapia envolvendo o jardim é a reintegração do indivíduo na Natureza. É fazê-lo abraçar suas particularidades, entendendo que a realidade de um é diferente da realidade do outro e que isso torna o mundo um lugar interessante. Não é mudar o padrão de comportamento fazendo uso de técnicas de condicionamento, é aceitar as feridas como contribuintes essenciais para a formação de sua história de vida, resultando na aceitação pessoal e fortalecimento do indivíduo. É valorizar o mundo interior de cada um como preciosa fonte de criatividade e aperfeiçoá-lo, visando uma relação harmoniosa consigo mesmo (a relação harmoniosa com a sociedade segue como  consequência). 

A loucura é a potência criativa mal canalizada e não deve ser tratada como doença, e sim como caminho para o crescimento pessoal em direção à genialidade. Não há mal que não se cure com o auto-conhecimento.


- encontre exemplos de visionários loucos e geniais na página links interessantes -



A Influência da Lua



A Lua governa o elemento Água - e como todos os seres vivos em nosso planeta são basicamente constituídos de água, os ritmos de nosso corpo estão intimamente ligados ao ritmo lunar. Todos os meses a Lua cresce, fica cheia (representação cósmica da gravidez), mingua, desaparece por três dias e renasce como a Lua Nova. Esse ciclo recorrente é espelhado nos ritmos da vida: concepção, nascimento, morte e renascimento.

As forças da terra também estão conectadas a esse movimento - plantar de acordo com a lua pode melhorar o desenvolvimento, produtividade e até o sabor de suas frutas e legumes. Essa prática é tão remota que as opiniões sobre os precursores divergem muito - alguns dizem que foram os egípcios, outros, os  babilônicos. Discussões a parte, essas sábias civilizações perceberam que certas plantas crescem melhor quando plantadas em determinada fase da lua, sendo que essas fases conferem influências específicas sobre o crescimento vegetal através da ascensão e queda da umidade no solo e da seiva da planta. Uma metáfora que pode ajudar a entender a influência da lua o desenvolvimento das plantas é a seguinte: quando a lua está minguante, a Terra inspira e a seiva das plantas desce, dando vitalidade às plantas que crescem para baixo (mandioca, batata, cenoura, etc). Quando a lua está crescente, a Terra expira e a seiva das plantas sobe, dando vitalidade às plantas que nascem para cima.



Para registros mais precisos, observou-se, ainda, o desempenho vegetal diante da posição lunar em cada constelação específica - o posicionamento da Lua nos signos do zodíaco passou a ser importante indicativo de fertilidade. Os meses mais férteis são de Câncer, Escorpião e Peixes (os signos de Água). Os semi-férteis são Touro, Libra e Capricórnio. Os semi-inférteis são Sagitário,  Aquário e Áries. E os mais inférteis são Gêmeos, Leão e Virgem.

Ao invés de encararmos tal prática como arcaica, por que não aproveitar dessa sabedoria cuja eficiência tem sido comprovada ao longo dos milênios? Como exemplo de sua aplicação contemporânea, dou destaque para o método de plantio chamado 'ciclo biodinâmico' desenvolvido por Rudolf Steiner em 1924, cuja influência astronômica é de vital importância para a agricultura. Além da posição da Lua,Vênus e Saturno também desempenham importante papel no calendário da agricultura biodinâmica.

Encontre links interessantes sobre o assunto aqui.

A seguir, segue-se um modelo tradicional sobre a relação das fases do ciclo lunar completo de 28 dias com as respectivas atividades a serem exercidas no jardim: 

5 DIAS DE LUA CHEIA
A Lua influencia, assim como a altura das marés, o solo e o desenvolvimento das plantas. A germinação de sementes é muito rápida nessa época devido a forte atração gravitacional que a Lua exerce, resultando em plantas fracas. O solo também está mais úmido que o costume, portanto não há tanta necessidade de irrigação. É uma época de fertilidade baixa, não é recomendado semear e nem replantar mudas. É época de arar e adubar a terra e fazer também reparos no jardim. 

2 DIAS DE LUA MINGUANTE
É uma boa época para semear e plantar cenoura, batata, alho, alho-poró, beterraba, mandioca - legumes cuja parte consumida é a raiz.

5 DIAS DE QUARTO MINGUANTE
Como a lua está minguando, não é uma boa época para plantar pois há pouca energia vital disponível. É uma boa época para colheita ou para realizar podas, devido ao baixo nível de seiva em plantas. Aliás é uma boa época para realizar cirurgias, pois, equivalente à seiva das plantas, o nível de nosso sangue está mais baixo.

2 DIAS DE LUA MINGUANTE
Como citado acima, é uma boa época para plantar raízes.

5 DIAS DE LUA NOVA
A vitalidade está subindo. É uma boa época para preparar canteiros para a fase mais fértil, que virá a seguir. 

9 DIAS DE LUA CRESCENTE
É o período mais fértil para semear e plantar vegetais que crescem acima do solo, ou qualquer outra planta - árvore, arbusto, trepadeiras. Também é boa época para replantar mudas ou plantas já maduras. Evite realizar podas nessa época.

sábado, 13 de julho de 2013

O que sua flor favorita diz sobre você?



Escolhemos nossas flores favoritas quando instintivamente identificamos que suas  propriedades curativas equivalem às nossas necessidades pessoais. Portanto, analisar quais plantas atraem nossa atenção - positiva ou negativamente - é um excelente exercício de auto-conhecimento.

Somos atraídas por certas flores porque sua essência, sua energia particular, restauram a harmonia de nossas vibrações energéticas - fazendo das flores um excelente instrumento curativo. Apresento a seguir uma lista de flores e suas possíveis relações com situações cotidianas, mas insisto que o leitor encare essa postagem como uma atividade filosófica de análise pessoal e não um manual de diagnósticos. Procure as orientações de um terapeuta floral treinado para melhores resultados.

Se sua flor preferida é...

Rosa

...você pode estar se sentindo vulnerável ou sendo vítima da ilusão. Considere a existência de distúrbios alimentares ou outros vícios como veículos de escape de traumas profundos. A rosa restaura a confiança, poder pessoal e promove o amor próprio.

Violeta

...você pode estar tendo dificuldades em exteriorizar sua dor. Resfriados, tosse, retenção de líquido, muco excessivo, podem ser um pedido de socorro do seu corpo. A violeta ajuda a materializar a dor através das lágrimas.

Lírio do Vale

...você pode estar passando por um momento de tristeza, perda e/ou separação - não se preocupe, o Lírio do Vale pode lhe ajudar a se recuperar. Preste atenção a problemas cardíacos ou respiratórios. O lírio ajuda a diminuir os batimentos do coração, então verifique se sua pressão sangüínea está ok.

Jasmim

...você pode estar passando por problemas de relacionamento, principalmente no sentido de desvalorização própria em relação ao outro - como ciúme excessivo, por exemplo. O jasmim ajuda a melhorar a auto-estima, promove otimismo e regula o apetite sexual.

Lavanda

...você pode estar passando por momentos estressantes. Se a lavanda lhe causa emoções fortes, tanto positiva quanto negativamente, sugiro que considere a existência de feridas emocionais que ainda não foram bem cicatrizadas. Culpa, vergonha e tristeza excessivas são sintomas comuns de distanciamento do seu verdadeiro Eu.

Gerânio

...você pode estar passando por problemas no ambiente doméstico ou profissional. O gerânio irá lhe ajudar a manter a calma e lidar com os conflitos de maneira serena.

Calêndula

...você pode estar se sentindo cansada, sem energia ou ainda estar passando por problemas na justiça. A calêndula ajuda a evitar que as preocupações do dia-a-dia resultem no esgotamento de sua energia vital.

Narciso

...você pode estar sofrendo com insônia, síndrome do pânico ou passando por uma crise em relação à sua espiritualidade. Trata-se de uma flor muito interessante e de complexa representação simbólica. Perséfone colhia narcisos quando foi raptada por Hades e levada ao submundo - aliás, há quem retrate essa flor como uma armadilha estrategicamente posicionada no campo pelo sequestrador, por isso, o narciso é considerado a 'flor da morte'. É possível que a lição que ele queira transmitir seja justamente a de transformação e fortalecimento pessoal.


Perséfone: Rainha do Inverno ou Donzela da Primavera?


Já retratamos superficialmente o mito de Perséfone na postagem Mães Cósmicas e Divindades da Terra, cuja história explica o surgimento das estações do ano: quando ela é obrigada a deixar o Olimpo para retornar ao Reino Subterrâneo, a grande deusa da fertilidade (sua mãe, Deméter) se recusa a fazer seu trabalho - afogada em saudade da filha - e condena o mundo a infertilidade do inverno. A beleza e a vida voltam a brotar na primavera, quando Perséfone tem permissão de deixar temporariamente o reino de seu marido, Hades, e retornar aos braços da mãe.

O mito de Perséfone é uma elegante explicação sobre o ritmo cíclico da vida e como o microcosmo e o macrocosmo estão interligados intimamente. É possível traçar um paralelo entre o processo de individuação de Perséfone e a ideia do ciclo cósmico proposta pela milenar sabedoria hindu: Yugas são as quatro 'eras' (ouro, prata, estanho e ferro) pelo qual o mundo passa, caracterizadas pela aproximação e distanciamento da Essência Divina. De menina inocente à mulher sábia, de donzela da primavera à rainha do inverno, Perséfone é obrigada a enfrentar os aspectos mais sombrios de seu ser para renascer fortalecida  depois de descobrir o potencial divino dentro de si.    

Deixo que as belas palavras de Sílzen Furtado expliquem como este mito é utilizado na prática clínica:

"A prática da clínica psicoterápica é um espaço sagrado onde se revelam os padrões psíquicos mais profundos, estruturantes da alma humana. As diversas histórias que ali se derramam, com seus traumas e transformações, representam uma amostra do que há de mais singular nos indivíduos ao mesmo tempo em que apontam para os temas centrais da vida, os quais sempre foram citados pela mitologia de todas as épocas. Nos mitos os arquétipos se revelam em sua forma mais pura. Em cada enredo elaborado pela consciência dos homens de milênios atrás, com uma linguagem simbólica, típica do inconsciente, são contados os caminhos para a evolução da alma humana, os passos heróicos imprescindíveis para a iluminação da consciência, a trajetória do Ego na direção do Self. Cada mito aborda aspectos diferentes de uma mesma jornada, a única que é essencial a qualquer pessoa, o caminho de sua Individuação. O mito de Perséfone apresenta o tema da filha inocente raptada do mundo da mãe (Deméter) pelo deus dos subterrâneos (Hades). Conta o mito que Perséfone debruçou-se para colher uma flor de Narciso à beira de um precipício quando a terra se abriu e dela surgiu Hades, que a seqüestrou para o mundo das trevas. Sua mãe a procurou por vários dias até que ameaçou lançar a infertilidade sobre a terra se a filha não fosse encontrada. Com a interferência de Zeus, Hades concorda em devolvê-la à mãe, mas antes lhe oferece sementes de romã, que ela aceita, e por ter se alimentado naquele local ficaria eternamente vinculada ao mesmo. Perséfone então passa a viver quatro meses com Hades nos infernos e oito meses com a mãe no Olimpo. 

Fazendo uma tradução para uma abordagem contemporânea identificamos alguns mitemas trazidos por esta história e que podem ser observados na prática clínica. A iniciação no mito dá-se com um rapto, fazendo referência à forma como se inicia o contato com o inconsciente para quem possui a consciência impregnada pela inocência. Há pessoas que permanecem por longo tempo numa atitude fantasiosa com relação às questões decisivas da maturidade e são despertadas de modo violento (crises de pânico, sintomas físicos, perdas, acidentes...) para uma reflexão mais profunda sobre o caminho que tem percorrido até então. Atendi uma jovem mulher que se casou com um homem que pouco conhecia para depois reconhecer nele o "príncipe das trevas". Este homem encarnou e representou sua imagem de animus negativo, estruturada ao longo dos anos de convivência com um pai alcoolista, acrescida por ter sofrido abuso sexual de um tio na infância, e reforçada pelo final traumático e sem explicações de um namoro com o seu grande amor na adolescência. Para não deparar-se com a perda do sonho romântico, continuou a acreditar numa felicidade ingênua, sem esforço, vinculando-se a uma relação aparentemente feliz, mas que se configurou como as "sementes de romã" que a tornaram prisioneira de um mundo sombrio. A iniciação traumática ou mediante uma profunda crise na vida funciona geralmente como um chamado para iniciar conscientemente o processo de individuação, proposto por Carl Gustav Jung como o conceito central da Psicologia Analítica. O rapto pode ser visto simbolicamente como uma lesão infligida ao ego que precisa ser provocado para abdicar de seu controle exclusivo sobre o psiquismo, estimulando-o ao reconhecimento do centro maior, o Self. 

A descida inicialmente traumática é, entretanto, a chave para um vasto campo de descobertas interiores. O tema da descida ao inconsciente, seguida da ascensão vai transformando a ingênua Perséfone na grande "Senhora dos Infernos", mas não sem antes sofrer os períodos de pavor através do qual um psiquismo inocente é invadido pelo confronto com os conteúdos assustadores que estiveram durante longo tempo reprimidos. O temor dos conteúdos internos, o medo de enlouquecer, a culpa por ter "comido as romãs", a inabilidade de lidar com conteúdos tão afetivamente carregados, aprisionaram a psiquê da paciente durante ainda algum tempo num padrão infantil, o qual se manifestou como busca de proteção maternal da vida e dos outros. Ela manifestou durante meses o pânico das fantasias sombrias que a assaltaram, a insegurança em lidar com os afazeres do mundo adulto (trabalhar, assumir um lugar social, responder por seus atos...). Temia sempre uma punição qualquer, vinda de qualquer pessoa, quando na realidade projetava sobre o mundo e as pessoas os algozes interiores que começava a reconhecer como aspectos de sua sombra (o orgulho e o desejo de domínio escondidos sobre a capa da mulher frágil e desprotegida, a vaidade excessiva ocultada pelo perfeccionismo e pela exigência de ser a melhor em tudo o que fizesse). 

A psiquê infantil violentada pela iniciação brusca demora em se situar no mundo avernal. Acha-se inicialmente vítima do mal exterior encarnado na figura do marido para não identificar em si as "sementes" do mesmo mal que acusa no outro. A imaginação fértil, as intuições funestas, a relação direta com os sonhos, são os componentes deste mundo que inicialmente foram vistos como ameaçadores, pois revelaram seu padrão autopunitivo, persecutório, para redimir-se de uma profunda culpa inconsciente, responsável pela rede de armadilhas construída em torno de si mesma para expiar seus sofrimentos. A Perséfone imatura geralmente aparece sob a roupagem da vítima, da mártir, da incompreendida. Só depois, com o tempo e a maturidade conquistada pelo esforço na relação com o inconsciente, poderá entender melhor suas manifestações psíquicas, deixar de projetar no externo as raízes de seus males, e dirigir de maneira sábia a relação com os conteúdos do mundo avernal, fazendo das manifestações inconscientes, poderosos aliados. É preciso realizar completamente a dolorosa descida para ser capaz de subir e trazer para a superfície a sabedoria adquirida. Após o período de sofrimento Perséfone é libertada e é agraciada com o poder de circular tanto no Olimpo como no Hades, saber do céu e do inferno, penetrar as raízes da dor e descobrir o caminho da própria cura. A paciente começou a trazer para sua vida concreta os benefícios deste contato profícuo com o inconsciente. 


A sabedoria é resultado da construção de um mundo íntimo rico e fértil, que não é mais tratado como inimigo necessitado de mecanismos repressores. O arquétipo do Velho Sábio no inconsciente masculino e o da Grande Mãe no feminino orientam o desenvolvimento do ego na direção do Self. Acompanhar um paciente em psicoterapia analítica é identificar os caminhos apresentados por seu Self e revelar para sua consciência os símbolos genuinamente criados para direcionar a energia psíquica na trajetória da individuação. Deixar-se conduzir pelas diretrizes do Self, aprender a relacionar-se com o mundo subjetivo de si mesmo e estar conectado às próprias profundezas é ser guiado pelo propósito superior da individuação. Até alcançar este estágio de perfeita sintonia com o Self passamos, entretanto, por descidas e subidas cíclicas, recheadas de sofrimentos e vitórias, como retrata o mito. Nos ciclos de descida aos infernos nos conectamos inicialmente com os medos, a depressão, os aspectos infantis, os conteúdos instintivos. Subimos à consciência e vamos aprendendo a integrar tais aspectos na personalidade total. As descidas seguintes já vão perdendo seu caráter traumático, permitindo assim o vislumbrar da sabedoria resultante do mergulho nas próprias feridas, favorecendo então a percepção dos componentes criativos e ordenadores do psiquismo. É preciso resistir às dores iniciais para merecer penetrar os recantos mais transcendentes do ser. 

Ampliando a consciência sobre os aspectos antes desconhecidos de si mesma pôde utilizar adequadamente seus verdadeiros talentos, abandonar progressivamente o papel da vítima e assumir seu lugar como profissional, mãe, e mais do que isso, a legitimar a si mesma, recuperando a crença na forma própria de sentir e avaliar as situações vividas. O medo, a culpa, o discurso de vítima foram cedendo espaço para uma manifestação mais sincera de seus verdadeiros atributos inconscientes. Passou a perceber com maior respeito e consideração qualquer conteúdo que aflorava nos sonhos e nas fantasias, desenvolvendo um diálogo aberto com os mesmos. Abandonar o lugar de inferioridade antes habitado e colocar-se como pessoa ativa na construção do próprio destino é uma mudança que desafia o antigo padrão tão cultivado pela Perséfone menina. Despedir-se dos aspectos infantis e assumir o ônus da vida adulta, responsabilizando-se pela própria psiquê, assumindo seus deuses e monstros interiores é tarefa heróica que transforma a vítima assustada na Perséfone sábia."