momento do re-despertar da vida depois do hostil Inverno. Os equinócios são momentos de transição e, portanto, oportunidades de renovação. A Terra está banhada em fertilidade numa explosão de vitalidade: deve-se celebrar a união dos casais e consequente geração de novas vidas. A Primavera é a estação da esperança e da certeza de que dias melhores sempre vêm.
"Podes cortar todas as flores, mas não podes impedir a primavera de aparecer." Pablo Neruda
Texto retirado de uma entrevista com Terence McKenna (1946-2000), etnobotânico e filósofo visionário. O vídeo original (legendado) se encontra no final do texto:
"Esquizofrenia é um termo geral para formas de comportamento mental que nós não entendemos".
No século XIX havia o termo melancolia, o que agora chamaríamos de depressão bipolar. Mas todas as formas de tristeza, infelicidade, maladaptação, e assim por diante, foram rotuladas de melancolia. Agora, a esquizofrenia é algo parecido.
Eu consigo me lembrar de uma experiência que tive anos atrás: eu estava na Biblioteca Tolman, na Universidade da California, que é a biblioteca de psicologia. Eu estava investigando alguma droga ou algo, então vi e tirei da prateleira um livro sobre esquizofrenia, e ele dizia: "O esquizofrênico típico vive num mundo de imaginação obscura, marginal à sua sociedade, incapaz de manter um emprego normal. Essas pessoas vivem nas margens, desprezadas por navegarem em seus próprios (auto-criados) sistemas de valores."
Eu disse: "É isso!"... "É isso! Agora eu entendo!"
Nós não temos a tradição de xamanismo. Nós não temos a tradição de se aventurar nesses mundos mentais. Nós temos pavor da loucura. Nós a tememos porque a mente ocidental é um castelo de cartas, e as pessoas que construiram este castelo sabem disso, e eles tem terror do delírio. Tim (Tomothy) Leary disse uma vez - ou eu lhe dei crédito por ter dito, mais tarde ele me falou que nunca disse... - mas seja quem for que disse, esta foi uma frase brilhante. Alguém disse uma vez: "O LSD é uma substância psicodélica que ocasionalmente causa comportamento psicótico... nas pessoas que não o tomaram!" Certo?
E eu aposto com vocês que mais pessoas demonstraram comportamentos psicóticos por não tomarem LSD, mas só de pensar nele, do que jamais foi demonstrado por tomar. Certamente na minha família, eu assisti meus pais ficarem psicóticos com o mero fato do LSD existir, eles nunca experimentariam.
Existe uma enorme fobia sobre a mente. A mente ocidental é bem enjoada quando primeiros princípios são questionados. Mais raros que cadáveres, nesta sociedade, são os delirantes não tratados, porque nós não conseguimos chegar a um acordo com isso.
Um xamã é alguém que mergulha no mesmo oceano que o esquizofrênico, mas o xamã possui milhares e milhares de anos de técnicas e tradições sancionadas nos quais se basear. Numa sociedade tradicional, se você apresenta "tendências esquizofrênicas", você é imediatamente separado do bando e colocado sob o cuidado e a tutela de mestres xamãs. É dito a você: "Você é especial, suas habilidades são essenciais para a saúde de nossa comunidade. Você vai curar, você vai profetizar, você guiará nossa sociedade em suas decisões mais fundamentais." Compare isso com o que é dito a uma pessoa apresentando "tendências esquizofrênicas" na nossa sociedade: "Você não se encaixa, você está se tornando um problema, você não se sustenta, você não tem o mesmo valor para nós, você está doente, você precisa ir para o hospital, você tem que ser trancado, você está no mesmo nível que os presidiários e os cachorros de rua."
O Louco - Golden Tarot
de Liz Dean (2008)
Então, este tratamento da esquizofrenia a torna incurável. Imagine se você fosse um pouco estranho e a solução fosse te colocar num lugar onde todos estão gravemente dementes. Isto enlouqueceria qualquer um. Se você já foi num hospício, você sabe que é um ambiente calculado para te deixar louco e te manter louco.
Isto nunca aconteceria numa sociedade aborígene ou tradicional.
Eu escrevi um livro - e este precisa ser o encerramento porque já passamos do tempo... - mas, eu escrevi um livro chamado "O retorno à cultura arcaica", eu o autografei esta noite para alguns de vocês. Nele, a ideia é que nós adoecemos por seguir um caminho de racionalismo sem limites, atenção machista a superfície visível das coisas, praticalidade, visão geral e vaga das coisas. Nós ficamos muito, muito doentes, e a política corporal, como em qualquer corpo, quando ele sente que está doente, ele começa a produzir anti-corpos, ou estratégias para superar a condição de doença. O Século XX é um enorme esforço de auto-cura. Fenômenos tão diversos quanto o surrealismo, piercings, uso de drogas psicodélicas, tolerância sexual, jazz, dança experimental, cultura de rave, tatuagem, a lista é interminável... O que todas essas coisas tem em comum? Elas representam vários estilos de rejeição de valores lineares. A sociedade está tentando se curar através de um retorno à cultura arcaica, por uma reversão à valores arcaicos.
Então, quando eu vejo as pessoas manifestando liberdade sexual, ou se escarificando, ou mostrando muita pele, ou dançando em ritmos sincopados, ou se embriagando, ou violando cânones religiosos de comportamento sexual, eu aplaudo tudo isso, porque é um impulso para retornar ao que é sentido pelo corpo, ao que é autêntico, ao que é arcaico. Quando você destrincha esses impulsos arcaicos, bem no centro desses impulsos está o desejo de voltar para um mundo de fortalecimento mágico do sentimento, e no centro deste impulso está o xamã, drogado, intoxicado com plantas de poder, falando com os espíritos ajudantes, dançando sob o luar, e vivificando e invocando um mundo de mistério vivo consciente.
O Mundo é isso. O Mundo não é um problema sem solução para cientistas e sociólogos, o Mundo é um mistério vivo. Nosso nascimento, nossa morte, nosso estar no presente, isso são mistérios, eles são portais se abrindo para vistas inimagináveis de auto-exploração, autorização e esperança para a empresa humana.
A nossa cultura destruiu isto, nos tirou isto, nos fez consumidores de produtos mal-feitos e ideais ainda mais mal-feitos. Nós temos que nos afastar disso, e o modo de se afastar é retornar à autêntica experiência do corpo. E isto significa nos autorizarmos sexualmente, e nos drogar, explorar a mente, como uma ferramenta para transformações pessoais e sociais.
A hora é tarde, o tempo está passando. Nós seremos julgados severamente se deixarmos a bola cair. Nós somos os herdeiros de milhões e milhões de anos, de vidas vividas com sucesso, e bem sucedidas adaptações às mudanças nas condições do mundo natural. Agora o desafio é nosso, dos vivos, para que os que estão para nascer tenham um lugar sob seus pés e um céu sobre suas cabeças.
É disso que se trata a experiência psicodélica, é se importar com a autorização e construção de um futuro que honre o passado, honre o planeta e honre o poder da imaginação humana. Não existe nada de tão poderoso, tão capaz de transformar a si e o planeta, do que a imaginação humana. Não vamos vendê-la! Não vamos nos prostituir à ideologias estúpidas! Não vamos entregar nosso controle aos de mais baixo grau entre nós! Ao invés, tome o seu lugar ao sol e vá em direção à luz. As ferramentas estão lá, o caminho é conhecido, você deve virar as costas para uma cultura que está se tornando estéril e morta e entrar no programa de um Mundo Vivo e da autorização da força da imaginação. Muito obrigado!
'Healing the spirit: an aboriginal approach to mental illness in South America'
Texto escrito por mim - baseado na entrevista de McKenna - para o curso 'O Contexto Social da Saúde e Doença Mental', oferecido pela University of Toronto:
The European colonization of South America began in the 15th
century. Portugal and Spain extensively explored not only the continent's
natural resources but also the knowledge of the local communities. South America
suffered with loss of identity: the original culture was dramatically replaced
through violent conquests and forceful religious impositions. The loss of
identity was of such significance that it still reflects on the present day,
over five centuries later.
A few practices have survived, including the healing arts of
the aboriginal people. Although such practices are protected legally (as they
are declared cultural patrimony), they have a very fragile existence because the
media portraits them as inefficient and supersticious, resulting in an
marginalization of these practices among the educated population, who prefer
the healthy care systems inspired by the european models. Besides, there is a
legal battle going on over the use of substances that are considered illegal due
to its psychoactive properties. These substances are the basis for the
establishment of various spiritual traditions of indigenous peoples in a vast
region - that includes several Amazonian countries such as Brazil, Peru,
Bolivia, Colombia, Ecuador, etc. - and are crucial elements of our cultural
heritage (Labate, 2008).
However, many people still search for alternative healing
techniques in isolated parts of the Amazon to experience the traditions in its original
settings. The growing concern over the loss of our culture can be noticed with the
revival of Shamanism, which is a spiritual practice that has been around for
over 10.000 years. The term 'shaman' is originally from Siberia and was created
by anthropologists to refer to a spiritual healer. But the shaman is not only a
healer, he or she performs many different roles in the community as counselor,
psychologist, doctor, educator, priest, botanist and others; which reflects the
holistic approach of the ancient knowledge when dealing with the 'dis-ease'. The
term 'mentally ill' used by the modern medicine suggests that the distress lies
on the mental level only, while the shamanic perspective takes in consideration
that the human complex - mind, body, spirit - are interdependable. The shaman himself
can be diagnosed as mentally ill: a Shaman is someone who swims in the same
motion as a schizophrenic, but the Shaman has thousands of years of sanctioned
technique and tradition to draw upon (McKenna, 1992).
Mentally ill is how we label those that have perceptions of
reality that are different from average and have their own self-created value
systems. As they suffer with many forms of maladaptation in the society, those
considered mentally ill are locked away. In the shamanic understanding, those
people should never be excluded from the community: together with the shaman,
they learn how to develop their skills and could even become shamans. The family
is proud of the individual because he or she enjoys an influential position in
the community and has proper guidance. In the 'civilized' society, the
so-called mentally ill are forced to adjust and the power is taken away from
their hands as well as their freedom. The family is unable to deal with the
situation because they lack effective instructions and support from the
community. By the bio-psycho-social-spiritual-cultural perspective, the patient
is in a much more beneficial environment among the tribal society than among
the civilized one. Anthropologists have already observed that severe mental
illnesses are inexistent in pre-writtting civilizations which could be an
evidence that it is a cultural issue rather than biological.
There is a lot we can learn with the ancient practices when
it comes to mental illness. The magic of life lies in its mysteries and
unsolved questions: 'where do we come from?', 'where do we go after we die?', 'is
there a God?'. These are natural questions that should remain unsolved for the
sake of our own sanity. As long as it remains a cosmic secret we can rely on
the power of our imagination to speculate as a healthy philosophical exercise.
Some matters are just beyond the compreheension of the ordinary sane person - the
ancient societies knew that and wisely praised the insanes as a valuable member
of the society, whose role is to be a bridge between the physical and the spiritual
world.
Para entender como o jardim pode ser utilizado como instrumento curativo, é preciso compreender o que está sendo curado. Mas afinal, o que a terapia se propõe a curar? Trata-se de uma questão muito delicada e apresento a seguir meu ponto de vista pessoal.
Vamos considerar a seguinte resposta: se propõe a curar qualquer anormalidade no comportamento do indivíduo. Mas eu pergunto - o que é a normalidade? Quem define tais parâmetros? Consideramos a inadequação do indivíduo na sociedade ou a inedequação da sociedade no indivíduo? Acabamos com mais dúvidas do que soluções.
Com uma abordagem holística da situação, identifico um problema cíclico e não linear: acredito que as necessidades irracionais de um indivíduo são consequencia direta da influência de uma sociedade disfuncional, que por sua vez, é resultado das necessidades irracionais do indivíduo. O padrão ideal de comportamento é baseado numa sociedade utópica, o que não reflete nossa realidade atual. Estamos tão condicionados a atuar no papel de cidadão perfeito que reprimimos nossas feridas emocionais a todo custo para exibir ao mundo uma fachada que julgamos aceitável. Essa atitude nos faz perder nossa identidade e nos afasta ainda mais de nosso verdadeiro Eu - é justamente neste distanciamento que surgem os distúrbios, transtornos e desequilíbrios mentais.
Portanto, acredito que o transtorno não é a doença em si, mas o sintoma de um problema ainda maior. Certas situações agem como gatilhos para nossas feridas emocionais e reações específicas irão imergir como consequência natural. O psiquiatra escocês R. D. Laing diz que 'transtornos mentais são uma resposta normal a um mundo louco'. Enquanto as feridas emocionais não forem identificadas e cicatrizadas corretamente, o indivíduo continuará a repetir o padrão de comportamento que tem lhe causado problemas e do qual ele quer tanto se livrar. Superar um comportamento problemático - por quê? Para quem? Ás vezes transtornos mentais soam como uma metáfora para mal comportamento.
É esperado de nós o sacrifício de nossa autenticidade e o não-conformismo é punido com exclusão social, por mais genial e por mais contribuições que o indivíduo tenha feito para a própria sociedade que o exclui. Os que contribuem 'positivamente' chamamos gênios, os que contribuem 'negativamente', chamamos loucos - desconsiderada a polaridade que os colocam em posições opostas, genialidade e loucura são idênticas em essência.
Portanto, o objetivo da terapia envolvendo o jardim é a reintegração do indivíduo na Natureza. É fazê-lo abraçar suas particularidades, entendendo que a realidade de um é diferente da realidade do outro e que isso torna o mundo um lugar interessante. Não é mudar o padrão de comportamento fazendo uso de técnicas de condicionamento, é aceitar as feridas como contribuintes essenciais para a formação de sua história de vida, resultando na aceitação pessoal e fortalecimento do indivíduo. É valorizar o mundo interior de cada um como preciosa fonte de criatividade e aperfeiçoá-lo, visando uma relação harmoniosa consigo mesmo (a relação harmoniosa com a sociedade segue como consequência).
A loucura é a potência criativa mal canalizada e não deve ser tratada como doença, e sim como caminho para o crescimento pessoal em direção à genialidade. Não há mal que não se cure com o auto-conhecimento.
- encontre exemplos de visionários loucos e geniais na página links interessantes -
Escolhemos nossas flores favoritas
quando instintivamente identificamos que suas
propriedades curativas equivalem às nossas necessidades pessoais.
Portanto, analisar quais plantas atraem nossa atenção - positiva ou
negativamente - é um excelente exercício de auto-conhecimento.
Somos atraídas por certas flores
porque sua essência, sua energia particular, restauram a harmonia de nossas
vibrações energéticas - fazendo das flores um excelente instrumento curativo.
Apresento a seguir uma lista de flores e suas possíveis relações com situações
cotidianas, mas insisto que o leitor encare essa postagem como uma atividade
filosófica de análise pessoal e não um manual de diagnósticos. Procure as
orientações de um terapeuta floral treinado para melhores resultados.
Se sua flor preferida é...
Rosa
...você pode estar se sentindo vulnerável ou sendo vítima da ilusão. Considere a existência de distúrbios alimentares ou outros vícios como veículos de escape de traumas profundos. A rosa restaura a confiança, poder pessoal e promove o amor próprio.
Violeta
...você pode estar tendo dificuldades em exteriorizar sua dor. Resfriados, tosse, retenção de líquido, muco excessivo, podem ser um pedido de socorro do seu corpo. A violeta ajuda a materializar a dor através das lágrimas.
Lírio do Vale
...você pode estar passando por um momento de tristeza, perda
e/ou separação - não se preocupe, o Lírio do Vale pode lhe ajudar a se
recuperar. Preste atenção a problemas cardíacos ou respiratórios. O
lírio ajuda a diminuir os batimentos do coração, então verifique se sua pressão
sangüínea está ok.
Jasmim
...você pode estar passando por problemas de relacionamento,
principalmente no sentido de desvalorização própria em relação ao outro - como
ciúme excessivo, por exemplo. O jasmim ajuda a melhorar a auto-estima, promove
otimismo e regula o apetite sexual.
Lavanda
...você pode estar passando por momentos estressantes. Se a lavanda lhe causa emoções fortes, tanto
positiva quanto negativamente, sugiro que considere a existência de feridas
emocionais que ainda não foram bem cicatrizadas. Culpa, vergonha e tristeza excessivas
são sintomas comuns de distanciamento do seu verdadeiro Eu.
Gerânio
...você pode estar passando por problemas no ambiente doméstico ou profissional. O gerânio irá lhe ajudar a manter a calma e lidar com os conflitos de maneira serena.
Calêndula
...você pode estar se sentindo cansada, sem energia ou ainda
estar passando por problemas na justiça. A calêndula ajuda a evitar que
as preocupações do dia-a-dia resultem no esgotamento de sua energia vital.
Narciso
...você pode estar sofrendo com insônia, síndrome do pânico
ou passando por uma crise em relação à sua espiritualidade. Trata-se de uma
flor muito interessante e de complexa representação simbólica. Perséfone colhia
narcisos quando foi raptada por Hades e levada ao submundo - aliás, há quem retrate essa flor como uma
armadilha estrategicamente posicionada no campo pelo sequestrador, por isso, o narciso é considerado a 'flor da morte'. É possível que a lição que ele queira
transmitir seja justamente a de transformação e fortalecimento pessoal.
Já retratamos superficialmente o mito de Perséfone na postagem Mães Cósmicas e Divindades da Terra, cuja história explica o surgimento das estações do ano: quando ela é obrigada a deixar o Olimpo para retornar ao Reino Subterrâneo, a grande deusa da fertilidade (sua mãe, Deméter) se recusa a fazer seu trabalho - afogada em saudade da filha - e condena o mundo a infertilidade do inverno. A beleza e a vida voltam a brotar na primavera, quando Perséfone tem permissão de deixar temporariamente o reino de seu marido, Hades, e retornar aos braços da mãe.
O mito de Perséfone é uma elegante explicação sobre o ritmo cíclico da vida e como o microcosmo e o macrocosmo estão interligados intimamente. É possível traçar um paralelo entre o processo de individuação de Perséfone e a ideia do ciclo cósmico proposta pela milenar sabedoria hindu: Yugas são as quatro 'eras' (ouro, prata, estanho e ferro) pelo qual o mundo passa, caracterizadas pela aproximação e distanciamento da Essência Divina. De menina inocente à mulher sábia, de donzela da primavera à rainha do inverno, Perséfone é obrigada a enfrentar os aspectos mais sombrios de seu ser para renascer fortalecida depois de descobrir o potencial divino dentro de si.
Deixo que as belas palavras de Sílzen Furtado expliquem como este mito é utilizado na prática clínica:
"A prática da clínica psicoterápica é um espaço sagrado onde se revelam os padrões psíquicos mais profundos, estruturantes da alma humana. As diversas histórias que ali se derramam, com seus traumas e transformações, representam uma amostra do que há de mais singular nos indivíduos ao mesmo tempo em que apontam para os temas centrais da vida, os quais sempre foram citados pela mitologia de todas as épocas. Nos mitos os arquétipos se revelam em sua forma mais pura. Em cada enredo elaborado pela consciência dos homens de milênios atrás, com uma linguagem simbólica, típica do inconsciente, são contados os caminhos para a evolução da alma humana, os passos heróicos imprescindíveis para a iluminação da consciência, a trajetória do Ego na direção do Self. Cada mito aborda aspectos diferentes de uma mesma jornada, a única que é essencial a qualquer pessoa, o caminho de sua Individuação. O mito de Perséfone apresenta o tema da filha inocente raptada do mundo da mãe (Deméter) pelo deus dos subterrâneos (Hades). Conta o mito que Perséfone debruçou-se para colher uma flor de Narciso à beira de um precipício quando a terra se abriu e dela surgiu Hades, que a seqüestrou para o mundo das trevas. Sua mãe a procurou por vários dias até que ameaçou lançar a infertilidade sobre a terra se a filha não fosse encontrada. Com a interferência de Zeus, Hades concorda em devolvê-la à mãe, mas antes lhe oferece sementes de romã, que ela aceita, e por ter se alimentado naquele local ficaria eternamente vinculada ao mesmo. Perséfone então passa a viver quatro meses com Hades nos infernos e oito meses com a mãe no Olimpo.
Fazendo uma tradução para uma abordagem contemporânea identificamos alguns mitemas trazidos por esta história e que podem ser observados na prática clínica. A iniciação no mito dá-se com um rapto, fazendo referência à forma como se inicia o contato com o inconsciente para quem possui a consciência impregnada pela inocência. Há pessoas que permanecem por longo tempo numa atitude fantasiosa com relação às questões decisivas da maturidade e são despertadas de modo violento (crises de pânico, sintomas físicos, perdas, acidentes...) para uma reflexão mais profunda sobre o caminho que tem percorrido até então. Atendi uma jovem mulher que se casou com um homem que pouco conhecia para depois reconhecer nele o "príncipe das trevas". Este homem encarnou e representou sua imagem de animus negativo, estruturada ao longo dos anos de convivência com um pai alcoolista, acrescida por ter sofrido abuso sexual de um tio na infância, e reforçada pelo final traumático e sem explicações de um namoro com o seu grande amor na adolescência. Para não deparar-se com a perda do sonho romântico, continuou a acreditar numa felicidade ingênua, sem esforço, vinculando-se a uma relação aparentemente feliz, mas que se configurou como as "sementes de romã" que a tornaram prisioneira de um mundo sombrio. A iniciação traumática ou mediante uma profunda crise na vida funciona geralmente como um chamado para iniciar conscientemente o processo de individuação, proposto por Carl Gustav Jung como o conceito central da Psicologia Analítica. O rapto pode ser visto simbolicamente como uma lesão infligida ao ego que precisa ser provocado para abdicar de seu controle exclusivo sobre o psiquismo, estimulando-o ao reconhecimento do centro maior, o Self.
A descida inicialmente traumática é, entretanto, a chave para um vasto campo de descobertas interiores. O tema da descida ao inconsciente, seguida da ascensão vai transformando a ingênua Perséfone na grande "Senhora dos Infernos", mas não sem antes sofrer os períodos de pavor através do qual um psiquismo inocente é invadido pelo confronto com os conteúdos assustadores que estiveram durante longo tempo reprimidos. O temor dos conteúdos internos, o medo de enlouquecer, a culpa por ter "comido as romãs", a inabilidade de lidar com conteúdos tão afetivamente carregados, aprisionaram a psiquê da paciente durante ainda algum tempo num padrão infantil, o qual se manifestou como busca de proteção maternal da vida e dos outros. Ela manifestou durante meses o pânico das fantasias sombrias que a assaltaram, a insegurança em lidar com os afazeres do mundo adulto (trabalhar, assumir um lugar social, responder por seus atos...). Temia sempre uma punição qualquer, vinda de qualquer pessoa, quando na realidade projetava sobre o mundo e as pessoas os algozes interiores que começava a reconhecer como aspectos de sua sombra (o orgulho e o desejo de domínio escondidos sobre a capa da mulher frágil e desprotegida, a vaidade excessiva ocultada pelo perfeccionismo e pela exigência de ser a melhor em tudo o que fizesse).
A psiquê infantil violentada pela iniciação brusca demora em se situar no mundo avernal. Acha-se inicialmente vítima do mal exterior encarnado na figura do marido para não identificar em si as "sementes" do mesmo mal que acusa no outro. A imaginação fértil, as intuições funestas, a relação direta com os sonhos, são os componentes deste mundo que inicialmente foram vistos como ameaçadores, pois revelaram seu padrão autopunitivo, persecutório, para redimir-se de uma profunda culpa inconsciente, responsável pela rede de armadilhas construída em torno de si mesma para expiar seus sofrimentos. A Perséfone imatura geralmente aparece sob a roupagem da vítima, da mártir, da incompreendida. Só depois, com o tempo e a maturidade conquistada pelo esforço na relação com o inconsciente, poderá entender melhor suas manifestações psíquicas, deixar de projetar no externo as raízes de seus males, e dirigir de maneira sábia a relação com os conteúdos do mundo avernal, fazendo das manifestações inconscientes, poderosos aliados. É preciso realizar completamente a dolorosa descida para ser capaz de subir e trazer para a superfície a sabedoria adquirida. Após o período de sofrimento Perséfone é libertada e é agraciada com o poder de circular tanto no Olimpo como no Hades, saber do céu e do inferno, penetrar as raízes da dor e descobrir o caminho da própria cura. A paciente começou a trazer para sua vida concreta os benefícios deste contato profícuo com o inconsciente.
A sabedoria é resultado da construção de um mundo íntimo rico e fértil, que não é mais tratado como inimigo necessitado de mecanismos repressores. O arquétipo do Velho Sábio no inconsciente masculino e o da Grande Mãe no feminino orientam o desenvolvimento do ego na direção do Self. Acompanhar um paciente em psicoterapia analítica é identificar os caminhos apresentados por seu Self e revelar para sua consciência os símbolos genuinamente criados para direcionar a energia psíquica na trajetória da individuação. Deixar-se conduzir pelas diretrizes do Self, aprender a relacionar-se com o mundo subjetivo de si mesmo e estar conectado às próprias profundezas é ser guiado pelo propósito superior da individuação. Até alcançar este estágio de perfeita sintonia com o Self passamos, entretanto, por descidas e subidas cíclicas, recheadas de sofrimentos e vitórias, como retrata o mito. Nos ciclos de descida aos infernos nos conectamos inicialmente com os medos, a depressão, os aspectos infantis, os conteúdos instintivos. Subimos à consciência e vamos aprendendo a integrar tais aspectos na personalidade total. As descidas seguintes já vão perdendo seu caráter traumático, permitindo assim o vislumbrar da sabedoria resultante do mergulho nas próprias feridas, favorecendo então a percepção dos componentes criativos e ordenadores do psiquismo. É preciso resistir às dores iniciais para merecer penetrar os recantos mais transcendentes do ser.
Ampliando a consciência sobre os aspectos antes desconhecidos de si mesma pôde utilizar adequadamente seus verdadeiros talentos, abandonar progressivamente o papel da vítima e assumir seu lugar como profissional, mãe, e mais do que isso, a legitimar a si mesma, recuperando a crença na forma própria de sentir e avaliar as situações vividas. O medo, a culpa, o discurso de vítima foram cedendo espaço para uma manifestação mais sincera de seus verdadeiros atributos inconscientes. Passou a perceber com maior respeito e consideração qualquer conteúdo que aflorava nos sonhos e nas fantasias, desenvolvendo um diálogo aberto com os mesmos. Abandonar o lugar de inferioridade antes habitado e colocar-se como pessoa ativa na construção do próprio destino é uma mudança que desafia o antigo padrão tão cultivado pela Perséfone menina. Despedir-se dos aspectos infantis e assumir o ônus da vida adulta, responsabilizando-se pela própria psiquê, assumindo seus deuses e monstros interiores é tarefa heróica que transforma a vítima assustada na Perséfone sábia."
O Espírito busca naturalmente a Luz. Reconhece ela, simultaneamente, como fonte de origem e de destino. Todos os seres que possuem espírito seguem essa tendência - e são TODOS os seres que o possuem.
O ato de buscar a Luz é expresso de modo muito literal nas plantas. Auxinas são hormônios vegetais que controlam os movimentos da planta em resposta à fonte luminosa. Quando iluminada apenas de um lado, as auxinas no caule migram para a região oposta - o que resulta no curvamento da planta em direção à luz. As raízes, em resposta, tendem a se alongar de forma inversa, oposta à fonte. Esse fenômeno é conhecido como fototropismo e explica o comportamento do girassol de 'seguir' o movimento do astro solar.
Esse hormônio também é responsável por estimular o ovário das plantas a formarem sementes e frutos, ou seja, não só estimula a planta a buscar luz - fonte de energia vital - como também perpetuar sua espécie.
Como vimos nos posts anteriores, os chakras - centros de energia - estão ligados a glândulas específicas. O corpo é capaz de comunicar consigo mesmo através dos hormônios, cuja produção é coordenada pela glândula - que por sua vez é orientada pelo chakra - na sua função de manter saudável o organismo.
Os vertebrados possuem uma misteriosa glândula, localizada entre os dois hemisférios do cérebro, chamada pineal. Essa glândula está associada ao Chakra Coroa e o hormônio produzido por ela é responsável por desencadear experiências místicas e fenômenos sobrenaturais (embora discorde de tal termo, pois não há nada que não seja natural). Sua função ainda é muito polêmica, mas já é admitida sua importância no regulamento dos ciclos vitais e controle das atividades sexuais e de reprodução.
Não tenho a pretensão aqui de propôr semelhanças entre o comportamento vegetal e humano no nível biológico. Quero chamar a atenção do leitor para o ato instintivo de buscar o Espírito (representado pela luz, pelo fogo) em todo e qualquer ser que habite o Universo. Não é a toa que diversas culturas ao redor do mundo cultuavam (e cultuam) o Sol, pois trata-se da mais importante fonte luminosa do nosso sistema. Conscientemente ou não, ansiosamente desejamos o retorno à origem primordial, ao ventre cósmico, ao Grande Espírito.
É interessante destacar que os dois hormônios estão relacionados à perpetuação da espécie, como se a luz lembrasse o corpo de que sua existência nesse plano é finita e através da reprodução somos capazes de superar a ação do tempo. A sexualidade nos eleva ao nível de deuses, pois com ela somos capazes de criar vida.
Quando a auxina atua na planta, seu caule busca a fonte luminosa enquanto suas raízes se afastam dela - não como um ato de rebeldia, mas com o propósito de ancorar e oferecer suporte ao corpo da planta. Iluminados não são aqueles que apenas reconhecem que estão em busca da Luz, mas aqueles que admitem que a Sombra é que lhe dá o suporte.
"Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas por tornar consciente a escuridão." - Carl Gustav Jung
Os textos esotéricos fazem uso de metáforas a fim de evitar acionar o potencial das palavras de poder - potencial este que pode ser tanto construtivo quanto destrutivo.
O leitor atento já deve ter percebido que este não se trata de um blog de paisagismo tradicional - plantas e jardinagem são um delicioso pretexto para a exposição de assuntos que muitas vezes são amargos e indigestos ao primeiro contato. Faço o uso da metáfora para tornar os textos mais didáticos e facilitar a assimilação das informações.
Muitas vezes estou literalmente me referindo ao jardim como um espaço físico. Levando em consideração o princípio da correspondência, o que ocorre no exterior é reflexo do que acontece no interior. Portanto, quando incentivo o leitor a cuidar de seu jardim exterior, o jardim interior é consequentemente beneficiado e assim atinjo meu objetivo como semeadora de palavras de Amor.
A seguir, considero três itens indispensáveis tanto no
seu jardim simbólico quanto no literal:
SEMENTE
As palavras são poderosas, grande poder está atribuído
a elas. Veja as palavras como sementes, como vida em estado latente.
A verbalização de uma idéia é o primeiro passo para
sua realização. Até o momento de sua expressão através das palavras, a idéia se
mantinha timidamente presa no nível mental - e que, antes disso, pertencia ao
nível espiritual e nem sequer era percebida pela consciência. Até que a
consciência interfira e a expresse através das palavras, a idéia se mantém
perdida no oceano primordial das possibilidades infinitas.
A doutrina tântrica define o movimento dos lábios
durante a pronúncia de um mantra como a cópula de Shiva e Shakti. Da união das
divindades surge um embrião, que deve ser alimentado em uma espécie de gestação
ainda durante a meditação e que depois se manifestará no plano físico.
O hebraico e o sânscrito são consideradas línguas
vibracionais. A vibração das palavras, quando verbalizadas, se elevam para o
Universo e retornam como manifestações físicas. O hebraico é uma língua
consonantal porque são justamente nas vogais que moram o verdadeiro poder -
privando as palavras das vogais, não há profanação dessa ferramenta sagrada.
O poder da palavra mora na sua intenção, assim como o
poder da semente mora no embrião. Quando você semeia palavras/sementes há a
possibilidade de que elas germinem quando as condições forem favoráveis - tanto
na terra quanto no coração.
Convido o leitor a refletir sobre sua própria colheita no post Equinócio de Outono.
ÁGUA
Quando você rega suas plantas, está oferecendo a elas
alimento - e alimento nada mais é do que fonte de energia vital. Em paralelo,
quando você respira, você está também disponibilizando energia vital para que
seu corpo funcione adequadamente.
Conhecido como Ch'i na cultura chinesa ou Prana na hindu, a energia vital, energia cósmica - ou como quer que a queira
chamar - é uma forma invisível de energia que dá alento à vida. Ela penetra em
nosso organismo através dos alimentos vivos, da luz do Sol, mas, principalmente,
pelo ar através da respiração.
Sua distribuição devida está diretamente relacionada
com a saúde, a inteligência e sensibilidade. Para ter certeza de que a energia
está sendo absorvida corretamente, tente manter lento e profundo o ritmo de sua
respiração, direcionando o ar até o abdômen. Imagine o ar entrando carregado de
Prana, retenha a energia no seu plexo solar e imagine o ar saindo de suas
narinas completamente descarregado.
Para manter-se equilibrado, inspire a mesma quantidade
de ar que expira. Para se acalmar, expire por um tempo mais longo que a
inspiração. Para provocar um estado de alerta, inspire por um tempo mais longo
que a expiração.
ADUBO
É preciso saber nutrir seu jardim. E é surpreendente
como o que consideramos inferior, errado, sujo, vergonhoso - como o excremento
- pode contribuir para a prosperidade.
Reprimir qualquer aspecto de si mesmo considerado negativo - assim como não adubar suas plantas - trará resultados
catastróficos para a saúde de seu jardim. Lembre-se de que dois pólos opostos
são idênticos em natureza, o que os distancia é apenas o grau. Portanto, Bom e
Ruim, Certo e Errado, Deus e Diabo, Luz e Trevas são a mesma coisa em essência,
porém, em pontos extremos - e a saúde mora no equilíbrio. Admitindo a importância
de um na mesma proporção que se admite a importância do outro, você alcança a
harmonia ideal.
"A generosidade do solo pega nosso composto e transforma em beleza. Tente ser mais como o solo."
Rumi
Em uma meditação, foi-me dito que "quando
alimento meu Deus interior com Amor, seu aspecto positivo se manifesta. Mas
quando alimento meu Deus interior com Medo, seu aspecto negativo é que se
manifesta". Ficou claro para mim com essa frase que tenho TOTAL controle
sobre qual aspecto de Deus manifesto em mim mesma. Podemos (aliás, devemos)
honrar e expressar os sentimentos considerados negativos - não se deixar
dominar por eles é uma escolha sua.
Adoro a colocação da Dra. Clarissa Pinkola - quando a
raiva chega, devemos convidá-la a se sentar, oferecer-lhe uma xícara de chá e
perguntar o motivo de sua visita. Uma vez que o 'motivo de sua visita' é
descoberto, somos então capazes de transmutar esse sentimento destrutivo em
Luz.
Reflita sobre a lição da lótus, símbolo da pureza e
iluminação espiritual - ela se eleva acima das águas sujas lodosas para desabrochar e
revelar suas pétalas imaculadas.
"Enquanto não morreres e não tornares a levantar-te
serás um estranho para a terra escura." - Goethe
O Abrunheiro já foi citado anteriormente, quando tracei paralelos entre esta Árvore Sagrada e o Arcano XIII do tarô, A Morte. Hoje é um dia propício para reavivarmos e nos aprofundarmos na sua lição sobre a Vida-Morte-Vida.
Vamos nos localizar no ciclo cósmico: estamos entre o Equinócio de Outono (20 de Março) e o Solstício de Inverno (21 de Junho) - um período de resguardo prevendo o período de infertilidade que se seguirá. A Ceifadora já fez seu trabalho e os campos jazem vazios em luto. O clima hostil do inverno induz à introspecção, quando finalmente paramos para assimilar as experiências do ano que se passou.
O Abrunheiro perde suas folhas no Outono e revela um corpo retorcido pelas dores da experiência. Mesmo vulnerável, ele nos abriga em segurança entre seus espinhos negros e nos conforta com a doçura de suas frutas. Representa a receptividade da Mãe Divina em seu aspecto destrutivo - Hécate, Kali, Durga, Lilith, Sekhmet, etc - que desperta em nosso interior o medo atávico da Morte. Voltamos ao ventre negro, - onde a ilusão da realidade física termina e é substituído pela consciência da eternidade - hibernamos e lá morremos. Voltamos para casa.
O Escaravelho Sagrado
O Espírito tem como único objetivo voltar para casa. O retorno à origem acontece mais obviamente na morte literal, mas a lição do Abrunheiro atenta para o processo em nível simbólico, iniciático. Trata-se da morte da personalidade, quando o indivíduo deixa de se identificar com o si a fim de entender o real significado do Eu. As personalidades que se manifestam ao decorrer da nossa vida não passam de tentativas de entrar em sintonia com o ritmo Divino.
Enfraquecer sua identificação com o corpo e com a personalidade é um passo fundamental para voltar à Origem, a morada das oportunidades não-manifestas - onde a liberdade reina suprema e as possibilidades são infinitas. O Todo é Infinito, portanto tudo que for finito não pode ser o Todo. O Espírito é infinito, o corpo e a personalidade não.
O Abrunheiro e o arquétipo representado pelo Arcano XIII, a Morte, ensinam a lição do desapego das personalidades na tortuosa jornada da Vida. Ensina que o que consideramos 'errado' agora, um dia já foi 'certo' - é perdoar as experiências do passado reconhecendo a lição sagrada que cada uma traz. Nossa Individualidade se manifesta através da evolução da personalidade até ficar o mais próximo possível do Eu Sagrado. Os erros e defeitos nos distanciam do Espírito, por isso são pistas importantes de como se aproximar Dele.
O Ego mora na necessidade de se prender a uma personalidade porque não aceita o fato do Eu não poder ser racionalizado. Ele rebaixa e limita a imensidão do Eu porque não o compreende. O Abrunheiro desmascarou o Ego e o Ego demonizou o Abrunheiro. Se fosse gente em vez de árvore, teria queimado na fogueira da Inquisição.
A Vida dá lugar a Morte, que dá lugar a uma Vida superior (no sentido evolutivo). O Abrunheiro corta as amarras do passado com seus espinhos afiados e nos abre para a possibilidade Infinta que é o Futuro - tão imaculado quanto suas flores brancas.
O Abrunheiro ensina que a Morte não é perda, é expansão.
Época de colher o que plantamos e de agradecermos pelos resultados alcançados. As palavras de ordem são equilíbrio, harmonia e sintonia.
Alimento para reflexão:
Estou satisfeito com a minha colheita?
Estou plantando mais sementes de amor ou de medo?
Estou em sintonia com o amor Universal?
Minha vontade coincide com a vontade Divina?
Plantamos intenções e colhemos realizações. Quando a intenção é pura e coincide com a vontade do Espírito, o Universo conspira para sua concretização - ou seja, você mesmo coordena a concretização de seus próprios desejos.
Essa é a lei natural da sincronicidade. Sincronicidade é uma cadeia de eventos relacionados, é você responsável por sua própria realidade. O Desejo cria a realidade, mas a dúvida interfere na manifestação do Desejo. O Desejo puro é nosso destino na vida - pureza é uma qualidade do espírito.
Analise o que você está plantando, analise o que você está colhendo; analise o que você gostaria de estar colhendo, analise o que você deveria estar plantando.
"A gratidão desbloqueia a plenitude da vida. Transforma o que temos em suficiente, negação em aceitação, caos em ordem, confusão em clareza. Pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo. Gratidão esclarece o sentido do ontem, traz paz para o hoje e cria visão para o amanhã." - Melody Beattie
Sete de Ouros: você colhe o
que planta. Golden Tarot de
Kat Black (2000)
"Estás mais perto do coração de Deus em um jardim,
do que em qualquer outro lugar da Terra."
- Dorothy Frances Gurney
Quando estamos em silêncio, encontramos a grandiosidade do Universo dentro de nós mesmos. Quando nosso corpo exausto é finalmente privado de estímulos sensoriais em excesso, conectamos-nos com o infinito. É quando vem a angústia de entender que estamos sós - mas a angústia logo se transforma em uma felicidade serena quando descobrimos que estamos sós porque somos o Todo.
O ritmo frenético da vida moderna nos faz esquecer dessa lição tão simples e tão essencial. A importância de possuir um local onde possamos praticar nossa identidade pessoal e ao mesmo tempo celebrar o infinito é imprescindível se quisermos manter uma vida saudável. Um local que seja um santuário, onde possamos encontrar equilíbrio e paz. Um local que seja a representação do paraíso na Terra - e que melhor lugar se não um jardim?
O jardim é um pedaço de terra modelado na forma de seu paraíso pessoal. Esse conceito vem sido aplicado no paisagismo há mais de 4.000 anos e começou na China, quando os primeiros jardins foram projetados com a intenção de re-criar as ilhas místicas que serviam como morada dos Imortais.
Praticamos a espiritualidade de forma literal mas também metafórica no jardim - a manutenção desse local sagrado representa a nossa relação com os deuses e com nós mesmos, investindo carinho e atenção, afinal, o aperfeiçoamento pessoal é uma prática constante.
Na visão holística, o todo é mais forte do que a soma de suas partes. Partindo do princípio de que tudo está interconectado, corpo forte é o resultado de uma mente saudável e vice versa. Enquanto a medicina convencional se limita em suprimir sintomas físicos, o jardim age como uma ferramenta terapêutica trazendo equilibrio à mente e consequentemente fortalecendo o sistema imunológico. A manutenção do espaço, por exemplo, é um processo extremamente calmante - através de movimentos monótonos repetitivos esvaziamos a mente, desaceleramos nossas ondas cerebrais e estabelecemos contato com o mundo sutil do reino vegetal.
O jardim é um complexo natural que envolve elementos de diferentes reinos. Essa 'comunidade' está em constante transformação nos relembrando de outra lição importante: a mudança é a única coisa que não muda. A vida é um longo ciclo composto de vários outros ciclos mais curtos. Quando nos mantemos cientes dos ritmos da Natureza, aceitamos melhor as mudanças de nossa própria vida e lidamos melhor com a constante da vida e morte - seja observando as estações do ano, as fases da lua, a alvorada e o ocaso. Quando aprendemos a ver o desabrochar de uma flor ser tão belo quanto o seu murchar - e este dar lugar a uma nova vida - aquela ansiedade profunda que nos consome vai aos poucos deixando de exercer sua força. A raíz de todos os medos, é o medo do fim.
"Não deixe a lua clara de um dia, Obscurecer o vazio eterno do passado interminável; Não deixe o vazio eterno do passado interminável, Obscurecer a lua clara de um dia."
- Shanneng, mestre Zen
A convivência com as plantas nos ensina paciência, confiança e sobre a doação de um amor que não envolve o ego. Quando conseguimos emitir vibrações de amor incondicional, o amor é atraído de volta a nós: essa é a lei natural da abundância.